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18 de ago. de 2011

Conversa de elevador

Acho incrível a maneira como os animais interagem com outros da mesma espécie. Alguns se encontram aos pulos, e calorosamente recebem o novo amigo, outros são mais discretos e preferem apenas dar aquela cheiradinha. Os cachorros fazem a festa quando vêem um outro cãozinho, e juntos brincam, correm e se divertem. Talvez o animal que menos goste de encontrar desconhecidos da mesma espécie seja o ser-humano. Instantes em que esse ser é obrigado a conviver com outro tornam-se, para a maioria, momentos de angústia e desconforto. Que coisa engraçada, é só entrar num elevador com no mínimo um vizinho dentro que a nossa espécie ou ignora a presença do outro, ou tenta quebrar o gelo comentando sobre o tempo.

Prefiro aqueles que conversam sobre banalidades. Esses dias estava lendo um livro no ônibus e, tão concentrava que estava, nem reparei que uma menina havia se sentado ao meu lado. Ao chegar perto da minha parada, fechei meu livro e a menina rapidamente se levantou para dar passagem e se virou de costas para mim. Não consegui ver o rosto dela, mas pela altura e os cabelos, supus que era uma conhecida minha. A vontade dela era tanta de não ter que criar uma situação de "conversa de elevador" que a menina fez um malabarismo para não ser vista. Queremos por vezes simplesmente passar despercebidos, invisíveis por alguns segundos. No elevador com o vizinho que você não conhece bem, no parque quando vê um velho amigo, na faculdade quando encontra ex-colegas, na praia quando você mais quer é descansar, e Deus me livre encontrar o ex-namorado numa festa! E assim vamos criando uma capa invisível, que nos torna um pouco mais sozinhos e um pouco mais aliviados.

Confesso que também passo por essa "fobia de gente" algumas vezes. Mas sinto que falta um pouco de sorriso aos amigos de uma outra época, um pouco de cordialidade com os porteiros, um "tudo bem" com os conhecidos, um aceno aos velhos amigos, enfim, um pouco mais de ser humano e de pensar no outro. Você não acha?