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30 de abr. de 2011

O misterioso homem do sobretudo preto

Lembrei do primeiro dia que eu resolvi escrever por escrever, escrever para marcar um momento. Eu devia ter uns 14 anos e passei por um dia que, pra mim, foi totalmente fora do comum. Depois à noite, quando cheguei em casa, contei toda a história pra minha mãe, e peguei um caderninho e comecei a escrever tudo que havia se passado comigo e as minhas amigas. Hoje, já não sei onde estão as páginas que eu escrevi. Provavelmente devo ter achado alguns anos depois e ter pensado: que bobo. E, provavelmente, seguindo o espírito de limpeza da minha mãe, coloquei no lixo minha historinha. Mas ainda lembro algumas coisas, e lembro muito bem que eu cheguei em casa feliz com as surpresas que me tinham acontecido.

Era um dia comum, e eu e as minhas amigas fomos no shopping passear. Rita, Camila e Andressa, se não me engano. (Gurias, me ajudem com os detalhes). Estávamos no Bourbon Country, olhando as bijuterias em alguma das lojas típicas que tem em todos os shoppings em Porto Alegre. De repente, entra um homem de sobretudo preto e um chapéu antigo da mesma cor, ele pára ao meu lado, olha as "bijus" como se nada estivesse acontecendo, e pega um monte de brincos da arara e esconde em baixo do casacão. Logo depois, o senhor sai da loja. Eu fico olhando para a porta da loja, por onde o homem recém havia passado, me perguntando: "Que estranho, porque esse homem saiu assim, será que ele trabalha aqui?". E essa foi a pergunta que eu fiz à vendedora da loja. E ela, obviamente, respondeu que não, aquele senhor não trabalhava na loja. Então eu avisei que eu achava que ele tinha roubado várias peças da loja, e ela logo avisou o segurança do shopping, e em minutos eles já estavam correndo atrás do homem. Um tempo depois, chegou a polícia, e o senhor misterioso foi abordado em um canto. Eu e as minhas amigas estávamos muito emocionadas, éramos as salvadoras da pátria. Na hora de voltar para casa (essa parte da história eu já tinha quase esquecido), eu e a Rita tivemos que esperar a lotação embaixo de chuva e vento, o que inclusive fez virar nosso guarda-chuva ao contrário, e vários meninos que também estavam na parada de ônibus começarem a rir da gente. Quando chegou a lotação, entramos, mas, por um nome, erramos o destino e eu só me dei conta que estávamos indo pro lado errado quando entramos na Farrapos. Sim, liguei para minha mãe e ela diz: "Pois é, essa lotação vai para a rodoviária!". Ligo para meu pai então: "Pai, você pode me buscar na rodoviária?". E ele diz que sim, já irritado por ter que sair de casa domingo de noite na chuva. Eu a Rita então, já na rodoviária, resolvemos passar nosso tempo dentro de uma lanchonete. Pedimos uma água, ou algum refrigerante, e ela veio num copinho de cachaça, muito "chique", junto com a trilha sonora de algum programa da Globo que passava na televisão do local. Nós ríamos muito.

Foi um dia atípico que provavelmente foi assunto principal na segunda-feira de manhã no Dohms. E é engraçado como a gente esquece muitos detalhes. Fiz um certo esforço para lembrar de vários deles, que talvez em alguns anos eu teria esquecido. Mas o motivo principal pelo qual reescrevi essa história, foi pelo simples fato de que a gente consegue reviver alguns momentos bons quando os lê novamente, ou mesmo quando conversa sobre eles. É bom lembrar essa amizade sincera que a gente tinha, que mudou muito nos anos que se passaram.

Um beijo especial para "as sete". Daqui a pouco estou voltando...

25 de abr. de 2011

Greves francesas

As famosas. Hoje cheguei de Londres, e na hora de pegar o ônibus para casa, em Marseille já, vi um cartaz dizendo que das 16h até as 18h os ônibus estariam operando somente 50% ou 60% das suas saídas/linhas. E eram 17h recém. Já coloquei a mochila no chão e me preparei para esperar por volta de uma hora. Mas sorte minha que ele passou em uns 15 minutos. Mas agora eu já posso dizer que passei pelas greves francesas! A primeira em 6 meses.

24 de abr. de 2011

Distorção

De tempos em tempos, eu compro revistas de moda, e adoro ficar olhando principalmente as propagandas e os editoriais de moda, as fotografias belíssimas e as modelos, atrizes e famosas mais lindas ainda. Nunca tinha percebido o quanto essas pequenas (ou grandes) influências do dia-a-dia moldavam tanto a minha percepção das coisas. Alguns dias atrás, eu estava no ônibus, em Londres, e entrou uma mulher com uma roupa muito bonita. Calça pêssego, uma blusinha soltinha bege e, se não me engano, um colete bem estiloso, com uma cor muito linda que combinava com a calça. Ah, e uma sandália marrom. O conjunto inteiro combinando, e, para completar, ela tinha os cabelos brilhosos e bem arrumados também.

Mas por um milésimo de segundo eu pensei: "Ah, mas... se bem que ela tem pernas grossas, não ficou tão bonito assim". Como se, para o conjunto inteiro ficar perfeito, ela precisasse ter um corpo de modelo de revista. E não, ela não era gorda. Ela simplesmente não era skinny. Mas dessa vez, foi como se eu pudesse ouvir o absurdo que eu tinha pensado. Como se eu pudesse girar um botão em minha mente, eu vi que sim, ela estava perfeita. O padrão de beleza vigente aparece tão forte em todo tipo de mídia de moda e beleza que muda nossa forma de ver o mundo sem percebermos.

Hoje fui no museu Victoria and Albert em Londres, e vi a exposição "The Cult of Beauty". Mostrava uma época em que os pintores e artistas começaram a produzir quadros e evoluir na arquitetura pela simples beleza que ela pode representar. The art for art's sake. E sim, lá estavam elas, em meados dos anos 1800, mulheres cheinhas sendo pintadas como deusas. E realmente eram lindas, de acordo com o padrão de beleza vigente da época. 

Quando será que o padrão saudável entrará na moda? Cada vez mais eu sofro menos em frente do espelho, por simplesmente não tentar me comparar com uma propaganda de revista, que na maioria das vezes nos mostra uma imagem completamente irreal. 

Sejamos um pouco mais United Colors of Benetton, mais campanha Dove, pela real beleza da mulher. Sejamos mais realistas.





16 de abr. de 2011

A diferença que um sorriso faz

Cheguei em Marseille no dia 04 de janeiro. Dia 05 de abril, três meses depois, parti em direção à Londres. Somente havia saído da França para fazer rápidas visitas à Espanha, mas no geral vivi em terras francesas desde que pisei na Europa. 

Em Londres decidi ficar 10 dias, tempo de sobra para conhecer os pontos turísticos, suficiente para começar a conhecer a cidade e pouco para realmente vivê-la. O que mais me impressionou nos primeiros dias em que cheguei na cidade foi a simpatia e o sorriso no rosto das pessoas. Quando chegava em qualquer estabelecimento comercial, todos diziam a mesma coisa: "Hi, How are you?". Ou às vezes somente: "How are you?". Ficava meio boba no início, nem sabia o que responder, afinal, por que o caixa do supermercado gostaria de saber como eu estava naquele dia? Respondia sempre num tom de dúvida: "Fine... and you?". Cheguei inclusive a comentar com a Camila esse detalhe que me chamou atenção, e ela me explicou que essa é a maneira de eles dizerem "Oi". Percebi que acabei me acostumando com o jeito mais frio de se comunicar com os desconhecidos na França. Quando vou no supermercado na minha cidade, posso ouvir um Bonjour, Au revoir e só. Afinal, perguntar como você está seria muito invasivo.

Na hora em que fui pagar as compras na Topshop, o caixa foi tão simpático que conversamos inclusive sobre o fato de que ele tem como sonho visitar o Brasil. Conversei também com outras pessoas durante a viagem, e esse jeitinho sempre fazia com que eu deixasse um sorriso escapar.

Um sorriso e uma frase tão simples, que fizeram toda a diferença.

13 de abr. de 2011

Sol e Londres

Hoje fez um dia feio em Londres. Depois de quase 10 dias de sol e temperatura agradabilíssima, decidi ficar essa manhã escrevendo um pouco sobre essa cidade incrível.

Foi no domingo que eu me apaixonei por Londres. Decidi acordar cedo e ir em duas feiras que a Duda havia me indicado: Columbia Flower Market e Brick Lane Market. Depois de quase uma hora tentando achar o lugar (a linha de metrô que eu deveria pegar estava fechada bem no trecho que eu deveria parar), cheguei em Columbia Street. Foi fácil, foi só seguir o sentido contrário de quem passava por mim carregado de flores. A feira, lotadíssima, era uma brisa de cultura e beleza. Tudo nela tinha cor, tinha algo de diferente. Saí de lá com os olhos mais vivos, e chegando em Brick Lane quase pirei. Pra chegar em Brick Lane não peguei o mapa. Sabia que deveria ir em certa direção, e fui. Quando comecei a ver mais movimento de novo, sabia que estava no lugar certo. Essa outra, novamente, lotada. Lotada de gente jovem, gente diferente, gente com estilo. Nunca tinha visto tantas lojas de brechós juntas. E tão grandes! Já haviam me avisado que o estilo londrino também é meio maluco, mas quando cheguei em Brick Lane parecia que havia entrado em um blog de moda. Estava vendo mulheres esguias usando as últimas tendências sem medo, e ninguém ficava olhando, ou encarando as meninas como se elas tivessem vindo de outro planeta. Elas simplesmente faziam parte daquele meio, estavam tão inseridas que a arte nas paredes combinava com os vestidos, pernas de fora e casacos vintage.

Cheguei em casa, cansada, mas meio abobada. Eu simplesmente nunca tinha visto tanta gente junta, saindo de uma feira, indo para outra, entrando em outros mercados, por toda parte. E tanta cultura junto. Tudo em um simples domingo de sol.

Ah, Londres. Não sei se é a primavera, mas a sua simpatia me conquistou.